sexta-feira, 13 de março de 2020

O BUNHO


Numa sociedade em mudança, o papel do novo artesão e, desenvolver artes quase milenares, criando novas formas, novos modelos. Ensaiando novas tecnologias, novos materiais e novos equipamentos que permitam a síntese entre o saber tradicional e as novas criações.
O artesanato e um estilo de vida, uma maneira diferente de intervir no desenvolvimento da vi­da local. Integra num todo global, o aspecto cultural (rural e urbano), econômico e social (potenciando e mobilizando recursos humanos e materiais). Tudo isto aliado a uma produção criativa.










O BUNHO O QUE É?  A SUA EXISTÊNCIA NO CONSELHO DE SANTARÉM


"O bunho ou buinha, é uma planta herbácea, da família das ciperáceas que se distingue das outras do mesmo gênero por ser uma planta vivaz. robusta, de caules solitários, roliços, muito compressíveis, de folhas inferiores reduzidas a bainhas e as superiores com limbo curto e assoveJado, espiguetas em antela e flores com perianto formado de sedas, igualando ou excedendo o aquenio na fortificação.
É espontânea em Portugal, é frequente nos pântanos e ribeiros sobretudo do centro e sul do país, sendo impossível o seu transplante e sementeira."
E utilizado nas salinas.(Aveiro), para tapar as medas de sal protegendo-as contra a chuva.
Depois de seco e preparado, tem a sua aplicação na industria artesanal: fabrico de esteiras, mobiliário e objecto decorativos.












SURGIMENTOS - MITOS OU REALIDADES

"O Sr. Matías Domingos é atualmente o único artesão que trabalha o bunho, no concelho de Santarém. Natural do Secorio, o Sr. Domingos recebeu do pai a herança do mobiliário de bunho.O pai do meu bisavô, ainda criança, guardando gado nos campos próximos da margem do Tejo, começou por fazer rodelas de bunho muito imperfeitas. Quando regressava das terras, trazia-as enfiadas num pau. Negociava então com as mulheres da aldeia que lhe ofereciam meio tostão por cada uma, para comprar tremoços. Começou então a aperfeiçoar a rodela, transmitindo os conhecimentos adquiridos, aos seus descendentes."
Hoje o Sr . Matias Domingos é o único desta família de bunheiros, a di­fundir os conhecimentos des­te oficio.
Esta é a versão do Sr. Matias . Sabe-se no entanto que os Avieiros (pescadores do distrito de Aveiro), que se deslocavam ao Tejo para pescar, também já possuíam conhecimentos sobre o bunho. Terá sido, a arte do bunho no concelho de Santarém, uma arte do acaso? Terá tido esta arte influencias dos Avieiros?
A verdade é que neste concelho, só esta família manteve a funcionar até ao momento, a indústria do bunho.







ARTE DO ACASO OU NECESSIDADE



Como era toda a temática do bunho, também para esta pergunta não existem registos que nos permita responder. Pensa-se no entanto que o primeiro objecto surgiu por necessidade.
Devido ás suas qualidades de macieza e resistência, o bunho aparece desde á muito tempo, ligado á "feitura" de esteiras, utilizadas como colchão. Era o seu uso vulgar, sobretudo nas regiões agricolamente mais desenvolvidas. Acompanhando as deslocações dos trabalhadores, ou sendo fornecidas pelo proprietário da fazenda, as esteiras revelavam-se de uso pratico e económico.
Serviu também o bunho para cobrir ou formar cabanas e ainda para 
cobrir salinas.



O ARTESÃO







Diz-nos o Sr. Matias Domingos, que crianças guardando gado próximo de terrenos pantanosos, começaram por brincadeira, envolvendo "mãos-cheias" de bunho com astes do mesmo. Formaram assim feitas rodelas. Aos poucos foi-se descobrindo novas e aperfeiçoadas uti­lidades para esta descoberta popular. A rodela foi trabalhada e deu ori­gem ao tanho, banco simples e confortável.
É com base no tanho que se constrói a maioria das peças de mobiliário de bunho conhecidas até hoje. Pelo mesmo processo, envolvendo astes de bunho em torno de "mãos-cheias" do mesmo e rematando com o nó de bunheiro conseguem-se outras formas, sempre possíveis de se modificarem.Ao artesão cabe assim aproveitar a perfeita moldagem e a am­pla resistência que o bunho oferece, criando assim peças que para além do seu lado utilitário, nos oferecem ainda, o artesanato mais puro e mais rico.



A APANHA


É geralmente no mês de Junho que o bunho é ceifado com foices ou gadanhas, por homens e mulheres sempre com água abaixo do nível do joelho.
Puxa-se depois pelas pontas para o separar de outras plantas que crescem junto deste. Espalha-se em forma de leque para possibilitar a sua seca­gem. Passados alguns dias volta-se para secar do lado contrário. E escolhido e atado em molhos. Encontra-se pronto para ser utilizado pe­los artesãos.
- o bunho encontra-se pronto para ser trabalhado;



O LOCAL DE TRABALHO


O bunheiro encontra-se quase sempre sentado num banco baixo, segurando o objecto em que trabalha entre as pernas, que se encontram abertas e esticadas para a frente.
Ao lado direito coloca as pontas de bunho com que vai traba­lhando. Ao esquerdo o "enchume" com que vai formando as "mãos-cheias".
Do lado direito pode também ver-se um recepiente corn água que serve para manter quer as pontas quer o enchume, borrifados. Serve ainda a água para manter as mãos molhadas, o que vai facilitar o trabalho do alisar do bunho.



OS INSTRUMENTOS DE TRABALHO



- O TEAR
O tear e constituído por duas varolas verticais e uma horizontal. Na varola horizontal fazem-se umas marcas de 25 em 25 cm. Em cada marca coloca-se uma pedra enrolada com uma corda que vai permitir tecer a esteira.

- A NAVALHA
A navalha permite desbastar o bunho em excesso nas mãos-cheias. Permite ainda cortar o bunho que se encontra imperfeito no f.inal de um qualquer traba­lho.

- A PAZEILHA - A pazeilha é uma cunha de madeira que, permite colocar as palhas em excesso, no final de um qualquer trabalho e que se encontram entre as mãos-cheias, para o interior. Permite assim aperfeiçoar o resultado final.

A AGULHA - A agulha é feita de aço com cabo de madeira. Na sua extremidade um buraco permite passar o bunho